A Inflação atinge novo recorde: Será esta subida temporária?

Após anos de inflação muito baixa, no último trimestre de 2021, a inflação atingiu o seu nível mais elevado dos últimos 20 anos.

Partindo do princípio que por inflação entende-se um aumento continuo e generalizado dos preços, e ainda que capaz de sérios transtornos na economia de um país, inflação não deve ser confundida com hiperinflação. Este último termo também consiste num aumento generalizado dos preços, no entanto, dá-se em proporções muito maiores, ao passo que, a inflação é sintoma de economias saudáveis em crescimento, ao invés de hiperinflação que é sinónimo de recessões e crises de estabilidade económica.

Existem três principais razões que fundamentam os níveis elevados da taxa de inflação verificados no término do ano 2021: a rápida reabertura da economia, os preços mais altos dos produtos energéticos, e o designado pelos estatísticos de “efeito de base”:

  • Rápida reabertura da Economia

Com o retirar de várias restrições associadas à pandemia COVID-19, a economia reabriu, fazendo com que as pessoas começassem a comprar mais e a gastar mais dinheiro, dado que vários planos tinham ficado em stand by durante o período de confinamento. Desta forma, com uma economia em crescimento, torna-se mais fácil para as empresas aumentarem os preços sem que este efeito tenha repercussões na procura.

  • Preços dos produtos energéticos mais elevados

Relativamente aos produtos energéticos, o petróleo, o gás e a eletricidade passaram a ser mais caros em todo o mundo e o principal fator que contribuiu para este aumento abrupto nos preços foi a alteração das condições climatéricas: menos vento no Reino Unido deixou as turbinas eólicas paradas, secas no Brasil reduziram a produção de eletricidade em barragens e o inverno mais frio deixou menores quantidades de reservas de petróleo e gás. Como grande parte dos custos das empresas e das pessoas estão relacionados com os produtos energéticos, a sua crescente procura fez subir os preços rapidamente. Inclusive, metade do recente aumento da inflação deveu-se aos preços mais altos destes produtos. (BCE, 16 de novembro de 2021).

  • “Efeito de base”

Para medir a inflação, compara-se a evolução dos preços por períodos homólogos. A verdade é que no auge da pandemia, em março de 2020, os preços encontravam-se excecionalmente baixos e um dos motivos encontrados, segundo o BCE, deve-se, essencialmente, a uma redução do imposto sobre as vendas na Alemanha. Assim, comparando os preços atuais mais elevados com os níveis mais baixos no período passado, as diferenças afiguram-se substanciais tratando-se dos designados “efeitos de base” que tendencionalmente, tenderão a desaparecer.

De acordo com a estimativa revelada pelo Eurostat – Gabinete de Estatística da União Europeia – a taxa de inflação homóloga na zona euro, atingiu, em dezembro de 2021, os 5%, percentagem que ficou bastante acima dos valores antecipados pelos economistas. De acordo com a Bloomberg, era expectável um resultado de 4,8% em dezembro, ligeiramente abaixo dos 4,9% registados no mês anterior.

Segundo o Gabinete de estatística da UE, o maior contributo que justifica a subida generalizada dos preços nos países europeus foi dado pela energia, seguida da alimentação, álcool e tabaco. A energia teve a maior subida da taxa anual antes assinalada, de cerca de 26%. Já o grupo da alimentação, álcool e tabaco subiu 3,2%, que comparam com os 2,2% registados em novembro.

Com uma estimativa de 5% em dezembro, assistiu-se a um novo valor recorde, que adensa as dúvidas sobre se esta subida na inflação será realmente temporária – como até agora era referido pelos líderes do BCE.

Contudo, já no final do ano, as declarações citadas pelo vice-presidente demonstraram uma linha de pensamento distinta daquela que era divulgada até então, onde já reconhecia que a inflação era “mais persistente (…) não tão temporária como antecipávamos”.

Estas palavras foram apoiadas por Jerome Powell, presidente da Reserva Federal Norte-americana, após ter defendido que “está na hora de retirar o termo transitório da inflação”. No entanto, esta opinião negativista não foi apoiada por toda a gente. Christine Lagarde, presidente do BCE, manteve-se confiante quanto ao desencadear da curva, acreditando firmemente de que a inflação irá recuar no presente ano de 2022. Segundo Lagarde, é pouco prudente dizer que a inflação irá ao encontro da meta dos 2%, inclusive alerta para a probabilidade de continuar elevada no curto prazo antes de estabilizar a longo prazo. Porém, afiança que o índice de preços ao consumidor deverá dar sinais de recuo.

Assim, coloca-se a questão de que, serão estas súbitas subidas da taxa de inflação permanentes ou terão um fim à vista?

O certo é que, se espera que os movimentos sejam de descida e não de subida no decurso de 2022. A oferta subirá gradualmente em resposta à crescente procura, os mercados estão esperançosos de que o preço dos produtos energéticos desça e os efeitos de base deixarão de ser incluídos nas comparações homólogas.

Não obstante, e atendendo que a pandemia não tem precedentes nos tempos modernos, a recuperação torna-se desafiante, com destaque para o nível de incerteza vivida atualmente, o que dificulta as projeções sobre a inflação.