A Guerra e o Choque Energético

Recentemente palavras como “guerra” ganharam destaque no mundo inteiro como resultado da invasão da Rússia na Ucrânia, no passado 24 de fevereiro. O conflito entre estes dois países não surgiu agora, no entanto, motivos como a expansão da NATO em direção ao leste da Europa e a possibilidade da Ucrânia se tornar membro, bem como a ambição de Vladimir Putin de restabelecer e aumentar a sua influência na União Soviética conduziram ao massacre atual que se vive nestes países. Consequentemente tem-se observado um caminho para o desequilíbrio financeiro e geopolítico destas nações, que por sua vez estão a ameaçar as relações comerciais a uma escala mundial.

Uma das questões que se coloca é quais os impactos que este conflito terá na economia, sendo que alguns dos efeitos imediatos incluíram a queda da bolsa e o aumento da inflação. Segundo o AICEP, em 2020, a Rússia representava o 3º produtor de petróleo, 3º produtor de gás natural e o 4º produtor de energia elétrica, a nível mundial. Já na Ucrânia destaca-se a sua produção de cereais, sendo um dos principais fornecedores de milho de Portugal. No que diz respeito às importações, Portugal não se encontra totalmente dependente destes países, uma vez que grande parte do gás natural (49%) advém da Nigéria (apenas 10% advém da Rússia) e não importa crude da Rússia desde 2020 (DGEEG, 2022). Em relação às exportações, Portugal vende para estes dois países principalmente cortiça.

Ainda que Portugal possa ser um dos países com menor exposição neste conflito já se sentem alguns efeitos negativos, e exemplo disso é o aumento do preço dos combustíveis (consequência do aumento preço do barril do petróleo que já ultrapassou os 100 USD) e do gás natural. No dia 07/03/2022, o preço do gás natural atingiu os 340€ por MW/h, registando-se um aumento de cerca de 200% desde o início do ano. Além disso, em 2022, o preço da eletricidade no mercado grossista ibérico atingiu o máximo histórico, cerca de 500€/MWh (aumento de 300% desde janeiro de 2022), que em parte deve-se ao incremento do preço do gás que por sua vez é utilizado nas centrais elétricas (Jornal Público; Jornal Observador; OMIE; 2022). Embora já se verificasse anteriormente um crescimento contínuo dos preços, muito em parte impulsionado pela pandemia, a guerra veio a intensificar este efeito.

Apesar de ainda predominar uma grande incerteza sobre os impactos que esta invasão poderá ter no resto da Europa é certo que Portugal não ficará a salvo dos efeitos negativos deste conflito e do abrandamento da economia mundial.